segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cinco vezes; com juros

Corria o ano de 93. Numa das arquibancadas do Morumbi, eu assistia ao Corinthians enfrentar mais uma vez o espetacular São Paulo de Raí, Telê e companhia - e a gente não ganhava deles de jeito nenhum. Aproveitando o domínio forjado no primeiro tempo, Válber fazia 1 a 0.

No segundo, o Corinthians passou a pressionar, e Paulo Sergio empataria a partida - se inexplicavelmente o bandeira Rogério Idealli não anulasse o tento, inventando uma fantasmagórica saída de bola. Minutos depois, André Luiz fecharia o placar para os tricolores. A injustíssima derrota tivera um sabor ainda mais amargo pelo cântico cara-de-pau da torcida contrária:

"Um, dois, três! O Corinthians é freguês!"

O tempo é senhor da razão.

Coisa de uma década depois, experimentaríamos mais um período fatídico sem vencer os caras. A estiagem duraria de 2003 a 2007 - com direito a um humilhante 5 a 1 no Pacaembu, logo após estranha eliminação na Copa do Brasil. Os dois resultados causaram a demissão de Daniel Passarella - justiça seja feita, o treinador dera algum padrão de jogo, mas esbarrou na falta de tato diante de tanta cobra criada. Acabaria o jejum no tenebroso 2007, em emblemático gol de Betão.

A freguesia mudava de lado - mas aquela goleada ainda atravessava a garganta. Até que o deus da bola resolveu vestir a camisa do São Paulo. O jejum fora quebrado com direito a centésimo gol de Rogério - um habilidoso na saída de bola, mas, queiram os são-paulinos ou não, um goleiro superestimado. Ele se aproveitou da imprudência de Ralf e balançou a rede de Julio Cesar.

Mas o Sobrenatural de Almeida gosta de vestir camisas sofredoras de vez em quando. E dessa vez ele integrou o bando de loucos. Paulo Cesar Carpegiani se ressentiu de sete jogadores e reuniu um grupo de inexperientes para um clássico dentro dos domínios alvinegros. A (justa) expulsão de Carlinhos Paraíba pôs tudo a perder.

A porteira se abriu da maneira mais desoladora. Um golaço de Danilo, uma chuva de Liedson, que também fez lá as suas pinturas, e o chute de Jorge Henrique que resultou num frangaço de Rogério.

E não adianta justificar com desfalques e o um a menos. Num campeonato de pontos corridos, ter um elenco equilibrado é fundamental; e no Brasileiro de 2006 o Corinthians de Leão enfrentou o São Paulo com dois a menos a maior parte do jogo - e não fosse Rafael Moura falhar numa finalização fatal, poderíamos até ter vencido.

Alma mais limpa do que isso, impossível.

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TOCO E ME VOY

- Por mais que eu considere o Palmeiras nosso maior antagonista, eu não ficaria tão feliz assim se a goleada fosse sobre eles.

- O Santos merece os parabéns pela conquista da Libertadores. Não se revela dois craques na mesma geração sem um bom trabalho de base - e isso nos serve de lição. Mas há uma fixação santista em jogar tudo na cara do Corinthians. Os torcedores fizeram bandeirão para relembrar a queda de 2007 ("Em segundo, algumas vezes. Na segunda, jamais") e levaram uma camisa do Tolima para a decisão contra o Peñarol. Chega a ser doentio.

- Se não é o time dos sonhos, o Corinthians parece estar formando um grupo bastante interessante. Ainda falta um lateral-esquerda, e Ralf ainda carece de um reserva à altura; mas há muita qualidade do meio pra frente. Se não é o meia ideal, Danilo vem fazendo boas partidas.

- No ataque, Tite terá "problemas" quando Adriano se recuperar. Willian, Emerson e Liedson formam um quarteto de muito respeito - e até Jorge Henrique tem se recuperado.


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