Não vi.
Estive longe, nas proximidades de Embu, cumprindo uma jornada espiritual.
Antes do fechamento desta, uns amigos ouviam o jogo. O primeiro tempo ficou no zero.
Alguns minutos depois, um deles se viu na obrigação de me noticiar que o Palmeiras estava na frente. Diego Souza.
E, ao que parecia, o time estava prestes a sucumbir, dominado que era.
Não vi. Mas ouvi.
Quando o encerramento iria começar, gritos e estrondos. Algo vindo da minha intuição me dizia que o Corinthians havia empatado.
Já arrumando as malas para a volta pra casa, soube que meu sexto sentido não falhara.
Não vi. Mas ouvi. E senti.
Alguém me sussurrou: "Gol do Ronaldo". E depois, vieram detalhes consagradores. Foi de cabeça. E aos 47 do segundo tempo.
Logo imaginei o Fenômeno sendo reverenciado por todo o elenco. Como se tivesse feito o seu milésimo gol.
Era apenas o primeiro.
Mas foi melhor do que eu imaginei. Ronaldo fora abraçado por time, torcida, imprensa... e até mesmo torcedores de outros times. Paulo Vinícius Coelho, de quem sou fã, dissera depois que viu a história acontecer diante de si.
"Senhoras e senhores, o Fenômeno voltou", disse o genial Milt0n Leite antes de gritar gol. Já Reinaldo Costa, da Eldorado, parafraseou Osmar Santos: "Gol do povo".
Quando ele entrou, aos 29 do segundo tempo, o sol escaldava e o Corinthians perdia.
Então, os astros terminavam a sua conjunção.
Em curtos espaço e tempo, ele fez jus à alcunha de Fenômeno. Girou, cruzou, chutou de fora e acertou a trave.
E fez gol.
De cabeça - justamente o seu ponto fraco.
E contra o maior e mais respeitável dos rivais.
Pareceu uma conjunção de astros. Só uma eterna fênix como o Corinthians para possibilitar o enésimo renascimento de um mito.
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Três dias depois, ele estreava na capital. Jogou até os trinta do segundo tempo.
E fez o tento da vitória contra o São Caetano.