quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Quanta hipocrisia

Chega a ser engraçado como é hipócrita este nosso mundo futebolístico brasileiro.


No Campeonato Paulista, Adriano monta em William para cabecear para o gol, que foi corretamente anulado (minha opinião). Pode-se discordar aqui e ali, porque na Europa isso cansa de acontecer. Mas houve quem achasse a anulação um escândalo. Chegaram ao cúmulo de dizer que o gol "foi legalíssimo".

Algumas rodadas depois, Kleber Pereira atropela Carlão escandalosamente e toca para o gol, o que bastou para o Santos vencer. A repercussão não foi das mais barulhentas. A imprensa disse apenas que o Corinthians "reclamou da arbitragem".

Volto 15 anos no tempo para lembrar de um outro Majestoso. Eu estava lá. O São Paulo dominou o primeiro tempo e foi para o intervalo com a vantagem do 1 a 0. Mas o Corinthians voltou melhor, e Paulo Sergio empatou o jogo. Ele pegou a bola quase na linha de fundo e fuzilou Zetti. Mas o bandeira Rogério Idealli anulou o gol de maneira tão inexplicável que nem ele conseguiu justificar. Só por muita insistência dos repórteres, disse: "A bola saiu". Ela estava uns 2 metros dentro do campo. Não houve tanta repercussão, porque afinal não era um jogo decisivo.

Ontem, no Engenhão, o São Paulo ganhava por 2 a 1. Aos 31 minutos, Lucas Silva chutou de fora e fez o gol. Wellington Paulista estava em posição de impedimento e levantou o pé, mas nem encostou na bola. Foi o suficiente para o bandeirinha Sergio da Silva Carvalho marcar impedimento. Tanto Arnaldo Cesar Coelho quanto Oscar Roberto Godói consideraram o tento legítimo. Os 2 a 1 fazem o São Paulo quase líder do campeonato. Mas as capas dos jornais preferem exaltar o tento tricolor fora de casa. Só o Botafogo chiou.

Três anos atrás, Corinthians e Inter faziam um jogo decisivo. A partida estava empatada em 1 gol quando Tinga sofre pênalti claro de Fábio Costa. Marcio Rezende de Freitas não só não marca como expulsa o volante colorado.

Só faltou o mundo acabar, de tão "vergonhoso" que foi o lance.

domingo, 26 de outubro de 2008

Voltamos pra vencer!

É... deixei de blogar. E larguei um pouco o Filhos!

De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Perdemos a Copa do Brasil e claudicamos em alguns momentos da Série B. Mas fizemos a nossa parte.

Bem ou mal, o Corinthians estabeleceu a diferença entre ele e os outros dessa enfraquecida Segunda Divisão. E enfim nos livramos dela.

Disse aos quatro cantos que me sentiria apenas aliviado pela iminente ascensão. Afinal, não passava de lição de casa.

Mas a vida me pregou uma peça. Estou feliz! Porque, depois de tudo, lembrei-me do fatídico 2 de dezembro, que me foi duplamente doído.

Vou reproduzir parte de um post meu na comunidade "CORINTHIANOS" do Orkut.

Eu trabalhava como produtor em um programa de TV e soube que estava sendo mandado embora, porque não tinha o perfil para o trabalho. Segundo a pessoa responsável, o ideal seria "uma menina, para passar maquiagem nos participantes." Detalhe: o programa era esportivo.

Não foi uma simples demissão, mas um golpe na minha dignidade, já devidamente ferida porque aquele era o trabalho que me segurava num momento bastante difícil.

A minha vida - em todos os aspectos - estava virada do avesso. O 2 de dezembro parecia dar o golpe de misericórdia que faltava.Hoje, as coisas, se não estão perfeitas, se encontram bastante melhores. E quando o jogo acabou, pensei em tudo o que passou. E, sim, vesti a camisa.

Pra mostrar que o Corinthians é diferente de tudo, sim. A Fiel torcida é, ao contrário de tantas baboseiras em contrario, diferenciada, sim.

Porque, para nós, o título é importante, mas não a ponto de ser o cerne da nossa história (como o é, por exemplo, com o São Paulo). O Corinthians é o Mundial (sim, Mundial) de 2000, é o tri brasileiro, é os seus 25 títulos paulistas, é as suas duas Copas do Brasil. Mas é sobretudo a Invasão, a Democracia, a redenção de 77 e Felipe caindo nos braços da torcida.

Sei que ainda há muito o que fazer para que o aprendizado se concretize. Mas a vitória de ontem só provou que estamos vivos. Muito vivos!

sábado, 31 de maio de 2008

Ninguém cala o bando de loucos

Já totalmente refeito do nirvana pulsante de quarta, chego para comemorar.


Aqui e ali, incensavam o Botafogo. Diziam que era mais time e tinha um leve favoritismo.

Ao assistir à partida decisiva contra o Atlético-MG, percebi que o Glorioso não era assim tão assustador. Dependia demais das boas atuações dos seus principais jogadores: Lucio Flávio e Wellington Paulista. Na ocasião, enquanto os dois não resolveram a parada, o Galo até ofereceu perigo, com as descidas de Marques - filho do Terrão - pela esquerda e com boas metidas de bola de Petkovic.

Uma coisa era certa: o duelo alvinegro prometia. Porque, bem ou mal, os cariocas tinham, sim, mais entrosamento - traduzido em dois anos a mais de trabalho de Cuca - e, por isso, muito bem treinado.

Do jogo no Engenhão, só assisti aos melhores momentos e depoimentos aqui e ali de quem analisou a partida. Pelo que diziam, o Corinthians jogou melhor. Carlos Alberto abriu o placar em belíssimo passe de Herrera. Mas fez o pênalti que iniciou a reação da Estrela Solitária. E aí, a boa defesa corintiana ficou parada assistindo à virada proporcionada por Jorge Henrique - bom jogador, mas marrento que dói.

O revés doeu por ser de virada e por contar com um imponderável vindo do sul. Leonardo Gaciba deu amarelo a todos os pendurados. O dado a Fabinho foi merecido, mas o de Lulinha é discutível e o de André Santos um escândalo de injusto, visto que ele sequer fez falta no lance. Carlos Alberto também ficaria de fora. Aí, o Mano foi na ferida e todo o mundo se melindrou.

A ausência do volante seria crucial pela liderança que ele estabelece em campo. Doeria, porém, menos do que as de Lulinha e - principalmente - André. Mais um ponto a favor deles. Entraram Nilton, Eduardo Ramos, Wellington Saci e Alessandro.

O Cícero Pompeu exalava um jogo de xadrez diferente, por ser de extrema tensão. E não deu outra. O zero a zero do primeiro tempo não traduzia a temperatura dos ânimos. Dentinho se estranhou com Jorge Henrique, Diguinho e Leandro Guerreiro. E o atacante botafoguense, em declaração infeliz, alfinetou o Corinthians "Eles são desleais. Vamos sair daqui classificados".

Aí, Evandro Roman se valeu de sua pequena autoridade e agiu com totalitarismo. Expulsou o Mano por invadir o campo. Tá, o treinador corintiano errou, porque saiu da zona técnica e realmente pisou dentro. Mas precisava disso tudo? Uma bronca bastava,

Antes de subir para as tribunas e sofrer com a comunicação via celular, ele deixou feita uma substituição: sai Fábio Ferreira e entra Acosta. O uruguaio ascendente abriu o caminho para a classificação.

Mas quem disse que ela viria sem percalços? Eis que Lúcio Flávio bate escanteio e conta com a falha de Felipe. Gol de Renato Silva. O caminho da redenção se povoava de pedras. Mas o gigante não se curva. Magicamente, o pé de Chicão ganhou o espírito de Marcelinho, o Carioca.

E o deus do futebol fez o êxtase subir na alma de tantos torcedores. Morumbi e São Januário se conectaram em uma só tensão: os pênaltis. Tanto cá como lá, todos acertaram, menos um. Lá, Edmundo, que tem na penalidade máxima o calcanhar de Aquiles. Cá, Zé Carlos, que mudou o canto da cobrança.

E a Copa do Brasil verá um inédito duelo de Sport Clubs: o do Recife e o Corinthians Paulista.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Ensurdece, Fiel!

O dia 6 de maio de 2008 se tornou um marco para mim. Para os meus 31 anos de vida, dá pra dizer que presenciei poucos jogos do Corinthians. E o que vi ontem no Morumbi contra o São Caetano foi o espetáculo de arquibancada mais lindo da minha vida.

Até pouco antes de o jogo começar, parecia que a Fiel não repetiria os 51 mil de quarta passada. Bom, no final das contas não repetiu mesmo. Mas a diferença foi de apenas 5 mil pessoas. E o espírito foi o mesmo. Depois de tantos anos de apatia, parece que enfim voltamos a ser ensurdecedores. Ao cantar o hino, um ritmo diferente: na primeira parte ("Salve o Corinthians...") as famosas palmas pra cima. Na segunda ("Teu passado é uma bandeira...") todos pulavam.

Confesso que fui ao jogo, acompanhado dos amigos Filipe, Rogério e Edson (pai de Filipe) com a disposição de apenas assistir ao jogo. Fazer isso na partida do Fortaleza foi fácil. Mas com 46 mil "loucos por ti", fica impossível não ficar contagiado. Do setor azul, vimos a Gaviões não parar um minuto sequer. E ainda trouxe um canto que, pra mim, é totalmente novo, que usa a melodia de "Você, meu amigo de fé" de Roberto Carlos. Muito bacana:

"Não pára, não pára, não pára
Não pára, não pára, não pára
Não pára, não pára, não pára
Vai pra cima, Timão"

Em campo, o time não repetiu o espetáculo de semana passada - Nem poderia, porque aquilo foi inspiração dos céus. Mas, definitivamente, abandonou a irregularidade e as doses de apatia do começo da era Mano. O treinador gaúcho repetiu o esquema com dois pontas bem abertos (Lulinha pela direita e Dentinho pela esquerda) um centroavante de ofício (Herrera) e um ponta de lança (Diogo Rincón). Por isso, André Santos - o homem da qualidade do passe - e Carlos Alberto pouco subiam.

No primeiro tempo, o time não rendeu, porque o São Caetano se fechava bem e, nos primeiros minutos, até subiu ao ataque. Na etapa final, Mano teve de tirar Diogo porque ele estava seriamente ameaçado de expulsão. Perdigão também saiu no intervalo - definitivamente, ele não é mais o mesmo. Entraram, respectivamente, Acosta e Eduardo Ramos.

E o time começou a apresentar um poder ofensivo um pouco maior. Ramos começou titubeante, errando alguns passes, mas foi se acertando. Acosta se movimentava bem pelos lados, auxiliando os pontas.

E o tão criticado Lulinha jogou muita bola! Envolvente, sofreu a falta que proporcionou vantagem numérica ao Corinthians. Wilton Goiano já tinha amarelo, e foi para o chuveiro cedo demais. Dos pés dele saiu o primeiro gol. Ganhou a dividida e, dotado de precisão cirúrguca, meteu a bola na cabeça do incansável Herrera. Sobre ele, Rogério disse: "Ele tem tanta vontade que às vezes passa da bola." Nesse lance, ele foi bem preciso.

Aí, a torcida, já bastante agitada, incendiou de vez. De um jeito que eu nunca tinha visto antes. Foi maravilhoso e emocionante. Ao som de 46 mil vozes alucinadas, o fantástico "Aqui tem um bando de louco" fica sideral. Principalmente na segunda passada.

Mas os deuses do futebol tem sérios requintes de crueldade. Deu uma pane na boa defesa corintiana. Luan aproveitou lançamento vindo do campo de defesa, tocou de cabeça para tirar o William da jogada, avançou em diagonal e bateu pro gol. Felipe ainda resvalou na bola, mas não evitou o empate. Os fiéis tomaram um baque, mas não desistiram.

Então, Dentinho - até aquela hora fazendo um jogo bastante conservador - cruzou da esquerda, para nova conclusão de cabeça de Herrera. Ainda dava tempo de fazer mais um. A torcida percebeu isso e empurrou com mais força.

Não deu! Dois a um em casa na Copa do Brasil é um resultado pra lá de perigoso... desde que o adversário não seja o São Caetano, um clube muito jovem de uma cidade desenvolvida, mas pouco populosa. Por isso, não conta com muitos torcedores.

O jogo de volta será em um palco de grandes lembranças, vindas de 95: Ribeirão Preto. Os cartolas do Azulão cogitaram jogar no Morumbi, mas o regulamento da competição não permite que um time mande o seu jogo na cidade do adversário.

Na saída, uma constatação unânime: time e torcida fizeram as pazes com a história.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O despertar de um gigante!

Já com a poeira da euforia mais baixa, venho para ficar feliz. Até que venha o próximo jogo.


E pra constatar, pela enésima vez, que o Corinthians não é uma instituição esportiva convencional. Passa a quilômetros de distância disso. E o motivo de tamanho diferencial é a Fiel.

Ou seja... somos nós.

Tanto se fala que os tempos dos setentas não voltam mais. Época em que chegamos ao cúmulo de dividir um Maracanã com o Fluminense e estabelecemos o indelével recorde histórico no Morumbi. Tempos em que qualquer jogo tinha público de trinta mil pra cima. Coisa rara hoje em dia. A Fiel, dizem os antigos, não mais é a mesma desses tempos. Vão além. Ficou como todas as outras.

A quarta-feira mostrou que o diferencial, embora por vezes adormecido no espírito da Fiel, continua lá. Ela talvez não lote mais todos os jogos como antigamente, mas se faz presente justamente nos momentos mais difíceis.

No jogo de volta contra o Fortaleza não havia mais do que uns 10 mil incautos - eu entre eles. O único setor do Morumbi com um número considerável de gente era a arquibancada a azul, acessível da Praça Roberto Gomes Pedrosa. Da laranja, os Gaviões puxavam os cantos, mas não eram muitos. O time havia ganho a partida de ida, o que gerava uma vantagem considerável. Era uma situação cômoda.

Na fase seguinte, um time combalido pela eliminação no Paulista e contestado - merecidamente - pelas más atuações tem pela frente a chance de tirar da garganta uma espinha com gosto de pequi. O Goiás disputou com o Corinthians o direito de permanecer na Série A até a última rodada. Graças a um jogo polêmico contra o Inter, conseguiu escapar - o gol que lhes originou a vitória saiu de um pênalti cobrado três vezes porque Clemer se adiantara, um lance que quase nunca é invalidado. Mas, vá lá, é regra... e o Corinthians também deu grandes vaciladas durante a competição.

E a chance de revanche começou com revés arrasador: 3 a 1 no Serra Dourada. Sem que o time jogasse nada havia um tempão, aquela desvantagem parecia uma missão impossível. Só que os alviverdes do cerrado cometeram o grave erro de subestimar o gigante. Falaram de uvas roxas antes e depois do jogo.

Aí, a Fiel renasceu o espírito dos guerreiros incansáveis do jejum, da Invasão do Maracanã (razão do título deste blog) e dos ensurdecedores de 77. Uma alma já presente no Pacaembu, três anos antes. Um moleque travesso do Paraná havia aprontado das suas, mas tomaria merecidas chineladas. Este bravo dos céus entra na batalha sempre pra vencer. Só sucumbiu ao descenso porque não pôde contra o império do mal formado por tantos desmandos e trapalhadas de um certo matusalém.

E então, 51 mil fiéis se tornaram homens do campo. A uva roxa produziu quatro tipos de vinho da melhor qualidade. Dois deles, oriundos da melhor safra mosqueteira dos tempos de Idário e Biro-Biro. Foram produzidos por Diogo, o Rincón dos pampas. No terceiro, a colheita brindou o melhor dos mundos: aliou à valentia do Superzé à arte de Rivelino. Graças a André de todos os Santos. O quarto, discreto como seu autor, foi além do quase. Coroou uma noite de glória.

Vem aí outro conhecido algoz. Mas, aposto, será engolido por um gigante ferido, cutucado... mas que resolveu despertar de vez.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Arbitragem: enfim, o diálogo

Eu e meu amigo Filipe Morais comparecemos ontem a um debate sobre arbitragem. O encontro foi promovido pela Universidade Cruzeiro do Sul - e realizado em seu campus Analia Franco, na zona leste - e pelo jornal Diário de São Paulo.

A caminhada até lá foi uma aventura regada ao implacável rush paulistano. Preferimos embarcar na estação Barra Funda pra não ter de se amassar feito sardinhas na Sé. O problema é que o tal terminal passou a se chamar Palmeiras. Corintianos que somos, tivemos de tapar o nariz.

Só a entrada no quarto trem do metrô já evidenciava a avalanche humana. "Morar em São Paulo é uma aventura." ele disse. O aperto foi tão grande que nós perdemos a Estação Tatuapé. Tivemos de saltar na Carrão e voltar. Já eram seis e meia - o debate estava marcado para as sete.

A van que deixava o terminal estava lotada. E foi vencendo ruas e curvas... no fim das contas, descemos nas proximidades do Shopping Anália Franco. Já eram sete e dez.

A entrada da Unicsul é monumental. Uma fachada reverenciada por vários lances de escada. O cenário fez o xará se lembrar de Rocky Balboa. Tínhamos de contornar o prédio principal e entrar num prédio ao lado. Sete e meia. Imaginei que já pudesse ter começado.

Ao chegar ao local, havia uns gatos pingados e nada dos debatedores. O velho defeito brasileiro da impontualidade nos foi favorável. O Coronel Marinho estaria preso no trânsito.

Não havia frescura. Desceram todos no meio da platéia. Despido da capa rígida de dentro do campo, Paulo César Oliveira distribuía autógrafos. Mas, centro da polêmica do choque-rei de domingo (encoberto por meio mundo, Adriano fez o primeiro gol do São Paulo com a mão), não fugiu da raia. Formada por muitos jovens, a platéia esteve inquieta demais o tempo todo. Um dos momentos de galhofa antes do início da discussão aconteceu quando PC autografou uma camisa do Palmeiras. Rinaldo Martorelli, presidente do sindicato dos jogadores, passou despercebido. A molecada mal sabia que ele foi goleiro do Palmeiras no final dos anos 80. No Paulista de 86, ele esteve presente em dois momentos trágicos. Um para ele - sofreu 5 gols do São Paulo num único jogo. Outro para mim: o Palmeiras devolveu a moeda justamente no Corinthians.

O debate começou sem a Ana Paula, que estava a caminho. Então era ela que se atrasara? Quando a belíssima assistente chegou, mais um momento de êxtase da platéia. Muitos aplausos e algum gracejo.

Emerson Leão tratou de desfazer uma imagem muito ruim. O treinador do Santos não é nada convencional. Prima pela contundência e por pontos de vista vigorosos. Mas não foi o mala que tantos apregoam.

Como o evento chamava-se "Em busca do diálogo", os palestrantes evidenciavam a dificuldade de travar uma comunicação dos mediadores dos jogos com a sociedade futebolística. Ana Paula diz que antes era recomendado que eles evitassem falassem com a imprensa. "Mas acho que a gente tem de falar, sim." Martorelli ressaltou que, no seu tempo de jogador, a comunicação com os árbitros era muito mais difícil. "Hoje, você não tem mais um Dulcídio (Wanderley Boschilla, ex-árbitro falecido em 96). Esse xingava jogador. Já o vi chamar os meus companheiros negros de macacos." Leão concorda: "Naquele tempo, muitos árbitros apitavam com ódio."

O treinador santista listou como um dos males da arbitragem o ciúme dos regra-três: "Já fiquei ao lado de vários. Eram simpáticos. Diziam: 'você tem razão. Foi pênalti, mesmo' Aí, eu digo a eles. 'se você estivesse apitando marcaria, né?'"

Outro tema discutido foi o uso da tecnologia para ajudar na resolução de lances. Segundo o Coronel Marinho, haverá um novo ponto eletrônico que filtra os ruídos externos. Ana Paula atentou para a dificuldade de se comunicar com os companheiros quando a partida está em curso. Mas o uso de imagens de telão durante os jogos ganhou um consenso negativo. Para eles, isso tira a autoridade e o charme do jogo. Martorelli fez ressalvas: "Discordo do João Havelange, que diz que o erro é 'necessário'".

Houve dois momentos de clímax. O primeiro, quando se debateu as mulheres árbitras. "Antes eu era totalmente contra, porque, no começo, a coisa aconteceu de maneira imposta. E as mulheres que entraram em campo na época não tinham preparo nem físico, nem técnico." disse Leão. "Muitas ainda não sabem direito o que querem da vida." O treinador santista, no entanto, admitiu: "As mulheres erram muito menos do que os homens." Ana Paula respondeu à altura: "Eu sei muito bem o que quero. O meu sonho é chegar a uma Copa do Mundo. Mas, infelizmente, eu obedeço a um sistema, que foi feito por homens."

O segundo aconteceu quando a assistente questionou a prioridade que a imprensa dá aos erros da arbitragem. Segundo ela, os jornais não salientam as dificuldades que os árbitros têm de definir um lance em segundos, enquanto jornalistas e treinadores são beneficiados por vários recursos eletrônicos. Nelson Nunes, colunista do Diário, respondeu. "Nós dissemos que o São Paulo ganhou com um gol de mão do Adriano. Me desculpe, mas ele realmente pôs a mão na bola."

O debate terminou com uma pergunta minha. No início da conversa, o PC disse que acabou a fase de o cara ficar em berço esplêndido durante a semana toda e ir para o jogo no domingo. Hoje existe toda uma preparação física e mental. Eu perguntei o que era essa preparação psicológica. As principais, segundo ele, são a alimentação e o sono. "Preciso daquelas 8 horas diárias. Se eu durmo sete horas e quarenta e cinco minutos, já acordo de mau humor." Ele também não abre mão de um preparo espiritual: "Sou católico, e oro muito." Ana Paula vai além: elimina baladas e assiste aos jogos para acompanhar a movimentação dos jogadores. "Se um zagueiro é mais lento ou mais rápido, se o Muricy joga com dois ou três defensores, isso influi muito no meu trabalho. Então, preciso dessa referência."

Ao final, fui agraciado com um cartão amarelo autografado pelo PC. Ele realmente é um cara que passa uma energia muito boa.

Mas a Ana Paula é um capítulo à parte. Muito menos pela beleza do que pela inteligência. A resposta dada à minha pergunta mostra o quanto ela é diferenciada. Alguns anos atrás, no Terceiro Tempo da Record, ela disse que, para não errar o impedimento, não tirava os olhos do lance e atentava para o momento do passe pelo barulho do chute. Como não sou nada bobo, fui lá cumprimentá-la. Muito simpática, me disse: "Parabéns. Bela camisa." Eu estava com a da seleção Portuguesa.

Toda a aventura valeu a pena.

domingo, 6 de abril de 2008

Não merecemos. Subiremos?

É a segunda vez em menos de seis meses que a tarde cai triste.


A derrota para um Noroeste que não é lá essas coisas evidencia que não merecíamos avançar no campeonato paulista. Talvez seja mais uma revanche para Marcio Bittencourt, demitido quando liderava o Brasileiro de 2005.


Entramos em campo, por culpa de nossos próprios méritos, num ambiente inglório. Era imperativo vencer. Mas não bastava. A Ponte não poderia vencer o Santos na Vila.


Edno abriu o placar para o colorado de Bauru, enquanto o Santos ia vencendo a Ponte. André Santos empatou ainda no final do primeiro tempo.


No raiar dos 30 minutos finais, Finazzi virava o jogo. Mas a macaca já vencia em Santos. Pelo menos, prenunciava uma despedida digna.


Que não durou um minuto sequer!

Edílton (que nome!) bateu meio sem querer na lateral da área e aumentava o sofrimento.


Aí, a defesa, tão sólida no campeonato inteiro, cometeu a sua pior falha. E o Noroeste virou o jogo.


Triste despedida de um time que saiu do nada e conseguiu começar a se acertar. Mas não teve o "algo mais" que faltou para avançar no Paulista. Uma classificação necessária para a auto-estima corintiana, tão combalida pelo rebaixamento.


Mas uma história tão presente nos dois últimos anos se fez presente neste. Sequer chegamos para disputar o título.

O mau retrospecto contra adversários diretos na Série B também preocupa. Derrota para o São Caetano, empates com Barueri e Bragantino e apenas uma vitória contra a Ponte. Isso sem contar empates toscos com Mirassol, Juventus e Sertãozinho.

No confronto com os rivais, duas derrotas (uma delas controversa, mas aconteceu) e um empate.

Isso não é handicap para o Corinthians.

Se jogar este mesmo futebol insuficiente na Segundona, não sobe.



Antes, não tinha dúvidas de que voltaríamos para a A no ano que vem



Hoje, ainda de cabeça quente, tenho sérias dúvidas.

sábado, 29 de março de 2008

Casão, a Fiel te ama

O ano era 1993. O chamado "Clássico das Multidões" teria o Pacaembu como palco. Do lado de lá, o gigante da Democracia parecia jogar apenas mais uma partida contra a agremiação que tanto defendeu no passado. Honrou as vestes rubro-negras com dignidade, pois tinha um compromisso a cumprir.

Ironia das ironias, pode-se dizer que o Corinthians venceu com um gol seu. Partida difícil, em que Gilmar Rinaldi, hoje empresário de jogadores, teimava em pegar tudo. Rivaldo chutou e a bola bateu nele antes de entrar. Mais um de tantos tentos à ocasião marcados com a camisa devota de São Jorge.

Mas não foi essa a marca que ficou.

Escapa-me da memória o momento do jogo em que aconteceu. Mas de tão intenso o momento prescinde de precisão. Os valentes Gaviões puxaram o cântico de consagração. "Volta, Casão! Seu lugar é no Timão."

E ele ganhou o Pacaembu de um lado a outro, como um maremoto.

Casão não ficou imune à súplica. Contou Juca Kfouri uma vez que, no vestiário, o gigante chorava como uma criança:

- Juca, o que é isso????

- Casão, a Fiel te ama.

Ele voltou. Foi uma passagem discreta, mas suficiente para que eu pudesse vê-lo no estádio pelo menos uma única e última vez. Encerrou a carreira no Paulista e virou comentarista da Globo.

Anos depois, duas notícias desabam em mim como bomba. Um acidente automobilístico primeiro, e a revelação da internação depois.

É triste ver que o Casão ainda não conseguiu vencer a guerra contra a dependência química, que era desconfiada a boca pequena há tempos, mas nunca espalhada com fervor.

Chegou a hora de os corintianos pelo menos dizer aos quatro cantos que está com ele.

FORÇA, CASÃO

A FIEL AINDA TE AMA

quarta-feira, 26 de março de 2008

Corinthians sofre latrocínio na Vila Belmiro

Quando o Corinthians perde, geralmente experimento duas sensações: raiva e tristeza. Se a derrota acontece num clássico, tudo se multiplica. Contra nosso maior rival, não soltei o verbo contra o time, que não jogou mal, mas perdeu nos detalhes para um adversário tecnicamente superior. Tenho asco de uma expressão tão comum na crônica esportiva: resultado justo ou injusto. Numa partida disputada em condições normais de temperatura e pressão, o resultado é sempre justo.

Também não é do meu feitio culpar a arbitragem pelos reveses. Mas o que aconteceu na Vila Belmiro - vê lá se isso é lugar de clássico!!! - foi um crime de lesa-pátria. Assalto? Não! LATROCÍNIO.

O cidadão de nariz grande cujo nome eu me recuso a falar resolveu operar o Corinthians. Carregou nos cartões, deu uma falta inexistente em lance de perigo - Fabinho cabeceou para o gol, mas o jogo já tava parado. E o cúmulo dos cúmulos... Kleber Pereira passou como um tanque sobre Carlão antes de fazer o gol fatal na frente dele... e a partida estava definida. Até o Pelé admitiu que foi falta.

Engraçada é a hipocrisia que cerca o futebol quando o assunto é arbitragem e Corinthians. Em 98, o argentino Javier Castrilli ficou conhecido como "o homem que roubou a Portuguesa" por um pênalti supostamente cometido por César. O zagueiro, hoje na Ponte Preta, teria, na visão dele, desviado uma bola com a mão dentro da área. Ele havia matado no peito. Como o jogo estava 2 a 1 para os lusos, o erro de Castrilli teria determinado o resultado do jogo. Mas a partida não foi analisada sob uma perspectiva mais ampla: os dois gols da Portuguesa também foram irregulares e o pênalti que originou o primeiro gol do Corinthians existiu.

O mais engraçado nessa história toda é que a Lusa se coloca como mártir dos árbitros. Mas o erro mais crasso da história do futebol brasileiro deu a ela um título paulista (em 73).

Por outro lado, a arbitragem absurdamente tendenciosa de José Aparecido de Oliveira na final que tirou o Palmeiras do jejum em 93 é pouco ventilada. No ano seguinte, Edmundo arruma uma confusão hercúlea num clássico contra o São Paulo e pega uma suspensão monstro que o tiraria do campeonato... mas então alguma coisa faz com que a sua volta se torne possível.

Em 2005, fez-se toda uma celeuma porque um árbitro desonesto saiu das sombras. O cidadão fora comprado para forjar resultados em benefício de apostadores. Coincidência ou não, o cara havia apitado dois gols em que o Corinthians perdeu: para Santos e São Paulo. Eis que o STJD decidiu anular todos os jogos do cidadão - medida acertada, porque todos os jogos apitados por um ladrão confesso têm de ser colocados sob suspeita. E estudar caso a caso é quimera que ameaçaria se estender por anos.

Eis que Corinthians e Internacional chegam ao momento decisivo em totais condições de conquistar o título. Quando a partida estava 1 a 1, o volante Tinga sofre um pênalti violentamente claro do então corintiano Fábio Costa. Marcio Rezende de Freitas não só não marca como expulsa Tinga.

Mais uma vez o mundo cai! Mas ninguém se lembra de que, na rodada anterior, em que o Corinthians perdeu para o São Caetano por 1 a 0, o colorado gaúcho venceu o Brasiliense pelo mesmo placar com um gol cuja jogada começa com crasso impedimento, na frente do bandeirinha.

Isso é mais uma indignação desabafada num momento de nervos fervendo. Mas sou suspeito para falar, porque, pra mim, "ganhar roubado" não é mais gostoso - pelo contrário, sinto vergonha!

Da mesma forma, "perder roubado" me causa espécie.
A partir de agora, tudo o que eu escrever sobre o Corinthians será neste espaço

Entre e fique à vontade.