quinta-feira, 27 de maio de 2010

O doce sabor da vingança

Dizem que a vingança é um prato que se come frio.

Não nesse caso!

A espinha do peixe ficou atravessada na garganta por três meses. Não apenas pela derrota na Vila, mas porque a garotada exagerou na empáfia. Logo de cara, Ganso dera uma rasteira em Ronaldo, "para mostrar a ele que quem manda na Vila é o Santos". Depois, já garantida a vantagem no placar, Neymar dá chapéu no Chicão com a bola parada. Ao final, mesmo com dois a menos, quase o Corinthians chegou ao empate. Ronaldo prometeu troco.

Mas, machucado, o Fenômeno não pôde saborear o prato fervente de revanche que o time apresentaria à bacurizada. No intervalo de lá pra cá, o Corinthians teve de ressurgir do fracasso da Libertadores. Depois de uma atuação bastante bagunçada diante do Barueri, Mano Menezes optou por uma diretriz diferente do que vinha fazendo: a melhor defesa contra o tão badalado Santos é... o ataque.

Então, aproveitou a versatilidade de Jucilei e o colocou na lateral-direita. Na marcação de Neymar, ele revezava com Ralf na proteção de zaga. Este vigiava Ganso de perto.

A saída da defesa para o ataque era muito bem feita por Bruno César. Enquanto isso, Danilo flutuava entre o meio e a ponta esquerda. Lá na frente, Jorge Henrique caía pela direita e Dentinho atuava pelo comando.

Nos primeiros 15 minutos de jogo, a equipe marcou a saída de bola santista. E o primeiro gol saiu logo no despertar do primeiro minuto. Bruno César bate de fora, Felipe espana e Jorge Henrique completa.

Aos poucos, a equipe foi cedendo espaços ao Santos. Mas, bem vigiados, Ganso e Neymar raramente chegavam com perigo. Cada vez que os dois tentavam avançar, eram ilhas cercadas de corintianos por todos os lados. Nos momentos finais, os praianos reclamaram de um impedimento mal-marcado pelo auxiliar Ednílson Corona.

Sem poder contar com suas maiores estrelas e com Arouca pouco inspirado, sobrou para Marquinhos tentar fazer a bola chegar ao ataque. Já no segundo tempo, de seus pés saiu o tento de empate, na metida de bola para André, que bateu à Ghiggia, na orelha da bola, e enganou Felipe.

A resposta veio imediata. A jogada começa num dos poucos avanços de Jucilei, que cruzou da direita. Edu Dracena desvia de cabeça, mas a bola cai nos pés de Bruno César, que encheu o pé e restabeleceu a vantagem. Aí, Dorival Junior resolveu mexer no time. Já tinha trocado Neymar por Madson e ousou: tirou Pará e colocou o centroavante Marcel.

Aos 21, a boa atuação de Ralf é coroada. Ele recebeu de Dentinho, invadiu a área e tocou no canto direito de Felipe: 3 a 1. Com a vantagem no placar, Mano colocou Paulinho no lugar de Bruno César para assegurar o contra-ataque. O ex-Bragantino já havia chegado ao ataque duas vezes e, aos 40 finais, aproveitou cruzamento de Roberto Carlos para marcar o quarto gol. O prejuízo santista fora amenizado por Marcel, em cobrança de falta de Ganso.

Os 13 pontos conquistados até aqui dão ao Corinthians uma gordura importante até que a Copa comece. Se vai entrar na briga pelo título, só a janela e o tempo vão dizer. Mas, se jogar com inteligência, a taça pode, sim, ser possível.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Um pouco de reflexão

Depois de recolhidos os cacos pela frustração, chegou a hora de recomeçar. Por instantes, para mim, o mundo acabou. E diante das gozações, decidi dar um gelo em alguns conhecidos torcedores de outros times, sorrindo de orelha a orelha.

Depois que o Flamengo "venceu perdendo", a torcida aplaudiu o time.

Com a cabeça mais fria, vejo que foi merecido. Pelo menos por este jogo em especial.

Mas nada elimina o momento de reflexão pelo qual todos temos de passar. Afinal, o fracasso na Libertadores evidenciou uma série de erros.

Entre eles, não creio que a montagem do elenco tenha sido uma delas. Mesmo com deficiências como as ausências de reservas à altura para Felipe e Ronaldo, as vindas de jogadores como Iarley, Danilo, Roberto Carlos e até o criticadíssimo Tcheco tinham boas razões para acontecer. Para vencer a Libertadores, era preciso contar com jogadores experientes. O atacante e o meia-esquerda ganharam, respectivamente, por Boca Juniors e São Paulo.

O problema maior, aí, é que Roberto Carlos, Danilo e Ralf vieram para preencher lacunas que se mostraram fatais. As saídas de Douglas, Cristian e André Santos destruíram uma unidade fundamental para as conquistas de Paulista e Copa do Brasil. Com eles, o time "deu liga".

Outro equívoco é o rodízio em excesso, o que dificultou o entrosamento do time. Com a agravante de ainda dar chances a Bill e Escudero, cuja carência técnica os impede de jogar num clube como o Corinthians.

Também contribuiu a troca, na lateral direita, de Balbuena por Moacir. Não pudemos contar com Alessandro durante praticamente toda a competição. Mesmo sendo limitado, o paraguaio tinha mais rodagem do que o pernambucano. Moacir - um jogador até razoável - pecou pela ingenuidade e provocou um pênalti que se mostrou fatal.

A gana pela Libertadores é compreensível. Queiramos ou não, e a despeito da fragilidade técnica da maioria dos participantes, trata-se de, na pior das hipóteses, do terceiro mais importante torneio de clubes do planeta, que dá passagem para o Mundial de Dubai.

Mas dela surgiu o maior de todos os erros: o desdém ao Brasileirão 2009 e ao Paulista 2010. No primeiro, o time deu o ano como favas contadas e sofreu derrotas pra lá de incompreensíveis, como para o rebaixado Náutico de virada em pleno Pacaembu e para o Flamengo em Campinas. O segundo chegou até mesmo a envergonhar: derrotas para Grêmio sem pátria e Paulista, então último colocado, e eliminação da semifinal.

O empenho maior nas duas competições poderia não redundar em títulos, mas deixava o time mais embalado para a Libertadores. A disputa na fase de grupos chegou a ser enfadonha, com o time propositalmente fazendo tão somente a lição de casa, quando poderia nitidamente apresentar mais. A ausência de espírito também foi prejudicial.

Questões mais pontuais com bastidores são coisas que já se repetem à exaustão. Uma mudança estrutural na cartolagem é um processo complexo e leva anos para acontecer.

Mas, por si só, não representam todos os porquês. Afinal, o Flamengo é muito mais tumultuado, e chegou às oitavas esfacelado e sem treinador.