quarta-feira, 29 de junho de 2011

No sufoco, mas "tamo" na ponta

Eis que tomamos a ponta do campeonato.

Com um jogo a menos, derrotamos o Bahia fora de casa e contamos com a derrota do São Paulo em casa para o Botafogo.

O resultado deve ser comemorado, porque muita gente vai tropeçar lá - esse time do Bahia, mesmo desfalcado, é muito guerreiro e bem arrumado. Com Jobson e Carlos Alberto, fica ainda mais perigoso.

O segundo tempo, no entanto, é pra botar um pé atrás. Não pela pressão dos anfitriões, que era mais do que esperada. Mas pela ainda incipiente saída de contra-ataque.

Em jogos assim, será fundamental a rapidez para desprevenir o adversário. E o time tem características pra isso - conta com dois avantes rápidos e um meia-atacante que acompanha o ritmo.

Alex entrou no segundo tempo para se contrapor à cadência de Danilo. Mas ainda não está na forma ideal e taticamente ainda não se achou - esteve enfiado demais. Coisa da estreia.

E no setor ofensivo há um banco à altura dos titulares. Emerson Sheik ainda não balançou a rede, mas já mostrou que sabe das coisas.

Lá atrás, a defesa menos vazada do campeonato deu lá os seus sustos. Pareceu um tanto vulnerável nas escapadas pelas pontas e nas jogadas aéreas - só não tomou o empate porque houve impedimento na jogada que Fahel concluiu.

Sei que não vai dar pra mitar em todos os jogos, mas é preciso um pouco mais de serenidade na hora de suportar a pressão.
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TOCO E ME VOY

- Mais uma vez Julio Cesar fez ótima partida. A concorrência de Renan tem feito bem a ele.

- Ironia fora de hora no Arena Sportv. Bob Faria disse a Paulo Julio Clement que Sandro Meira Ricci sempre apita bem em jogos do Corinthians. "Nem sempre", respondeu o outro. Eles se referiram ao polêmico pênalti de 2010 diante do Cruzeiro no Pacaembu - que foi claríssimo.

- Apesar do sufoco, começo a achar esse elenco cada vez mais consistente. Tite tem inegáveis méritos ao trazer o grupo pra si. Mas ainda não me inspira confiança.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cinco vezes; com juros

Corria o ano de 93. Numa das arquibancadas do Morumbi, eu assistia ao Corinthians enfrentar mais uma vez o espetacular São Paulo de Raí, Telê e companhia - e a gente não ganhava deles de jeito nenhum. Aproveitando o domínio forjado no primeiro tempo, Válber fazia 1 a 0.

No segundo, o Corinthians passou a pressionar, e Paulo Sergio empataria a partida - se inexplicavelmente o bandeira Rogério Idealli não anulasse o tento, inventando uma fantasmagórica saída de bola. Minutos depois, André Luiz fecharia o placar para os tricolores. A injustíssima derrota tivera um sabor ainda mais amargo pelo cântico cara-de-pau da torcida contrária:

"Um, dois, três! O Corinthians é freguês!"

O tempo é senhor da razão.

Coisa de uma década depois, experimentaríamos mais um período fatídico sem vencer os caras. A estiagem duraria de 2003 a 2007 - com direito a um humilhante 5 a 1 no Pacaembu, logo após estranha eliminação na Copa do Brasil. Os dois resultados causaram a demissão de Daniel Passarella - justiça seja feita, o treinador dera algum padrão de jogo, mas esbarrou na falta de tato diante de tanta cobra criada. Acabaria o jejum no tenebroso 2007, em emblemático gol de Betão.

A freguesia mudava de lado - mas aquela goleada ainda atravessava a garganta. Até que o deus da bola resolveu vestir a camisa do São Paulo. O jejum fora quebrado com direito a centésimo gol de Rogério - um habilidoso na saída de bola, mas, queiram os são-paulinos ou não, um goleiro superestimado. Ele se aproveitou da imprudência de Ralf e balançou a rede de Julio Cesar.

Mas o Sobrenatural de Almeida gosta de vestir camisas sofredoras de vez em quando. E dessa vez ele integrou o bando de loucos. Paulo Cesar Carpegiani se ressentiu de sete jogadores e reuniu um grupo de inexperientes para um clássico dentro dos domínios alvinegros. A (justa) expulsão de Carlinhos Paraíba pôs tudo a perder.

A porteira se abriu da maneira mais desoladora. Um golaço de Danilo, uma chuva de Liedson, que também fez lá as suas pinturas, e o chute de Jorge Henrique que resultou num frangaço de Rogério.

E não adianta justificar com desfalques e o um a menos. Num campeonato de pontos corridos, ter um elenco equilibrado é fundamental; e no Brasileiro de 2006 o Corinthians de Leão enfrentou o São Paulo com dois a menos a maior parte do jogo - e não fosse Rafael Moura falhar numa finalização fatal, poderíamos até ter vencido.

Alma mais limpa do que isso, impossível.

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TOCO E ME VOY

- Por mais que eu considere o Palmeiras nosso maior antagonista, eu não ficaria tão feliz assim se a goleada fosse sobre eles.

- O Santos merece os parabéns pela conquista da Libertadores. Não se revela dois craques na mesma geração sem um bom trabalho de base - e isso nos serve de lição. Mas há uma fixação santista em jogar tudo na cara do Corinthians. Os torcedores fizeram bandeirão para relembrar a queda de 2007 ("Em segundo, algumas vezes. Na segunda, jamais") e levaram uma camisa do Tolima para a decisão contra o Peñarol. Chega a ser doentio.

- Se não é o time dos sonhos, o Corinthians parece estar formando um grupo bastante interessante. Ainda falta um lateral-esquerda, e Ralf ainda carece de um reserva à altura; mas há muita qualidade do meio pra frente. Se não é o meia ideal, Danilo vem fazendo boas partidas.

- No ataque, Tite terá "problemas" quando Adriano se recuperar. Willian, Emerson e Liedson formam um quarteto de muito respeito - e até Jorge Henrique tem se recuperado.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Pra desbaratar uma falácia

Fim de semana sem jogo do Corinthians é a coisa mais sem-graça que existe. E isso só completou o nada alegre quadro do meu fim de semana. Que fique como lembrança na parede.

Mas nessa entressafra forçada, eu queria refletir sobre um rótulo que se colou sobre a identidade tanto do torcedor quanto da história corintiana: o mito segundo o qual a técnica não é tão importante assim e o que vale, mesmo, é a raça.

Pura falácia. Se assim fosse, o Corinthians não seria a potência que é hoje - ainda que, nas palavras de um insuspeito são-paulino, seja um Boeing pilotado por comandantes de teco-teco.

Gostamos, sim, de craques. Tanto é verdade que nove entre dez dos nossos maiores ídolos são atletas de inconteste capacidade técnica. Neco fora artilheiro da campanha vitoriosa da seleção brasileira no Sul-Americano de 1919. Outro goleador nato, Teleco fora espantoso: marcara 251 gols em 246 jogos, média superior a 1,02 gol por partida - nem mesmo Pelé, com 0,93, conseguiu o mesmo.

Maior artilheiro da história corintiana, Cláudio Christovam do Pinho tinha o apelido de "gerente" - não só por ajudar os colegas a jogar sob melhores condições de trabalho, mas pelo trato com a pequena dentro de campo. E o Pequeno Polegar Luis Trochillo se notabilizou por uma suposta estripulia diante do marcador argentino Luiz Villa, do Palmeiras - teria sentado na bola na frente dele. Décadas depois, Carbone desmentiria o mito: "Ele não sentou; tropeçou e caiu".

Azar da realidade. Eu prefiro a primeira versão.

Gylmar dos Santos Neves era o fino do gol. Dizem os viventes de seu tempo que não fazia espalhafato - tinha notável senso de colocação e por isso pouco se passava. Depois de um frango, sacudia a poeira e dizia: "Agora não passa mais nada". Dito e feito.

Torcesse o destino por alguém, seria o Juventus. Porque, de não fazer Rivelino campeão pelo Corinthians, aprontou lá boa dose de molecagem. Fora pego pra cristo na fatídica derrota no Paulista de 74 para o Palmeiras, que resultou em selvageria e quebra-quebra nos arredores do Morumbi.

E como não se lembrar de Palhinha e Sócrates, verdadeiros artistas e artífices? O Doutor certa vez desmontou a aura de determinar o ritmo da torcida. "Eu queria que eles pressionassem o time certo: o adversário". Longe de conduzir, o craque reverenciava a primazia única da Fiel. "As outras torcidas torcem. A do Corinthians joga junto".

Neto é o meu primeiro ídolo. Lembro-me de agonizar nas quartas-de-final contra o timaço do Atlético-MG, cujo primeiro jogo aconteceria no Pacaembu. E eu estava do lado de lá do rádio, preso ao inesquecível Fiori Gigliotti. Até os 36 do segundo tempo, o Galo tava na frente. E Neto virou o jogo em menos de dez minutos. Craque de um time pouco iluminado, fora fundamental na conquista do primeiro título brasileiro.

Da mesma forma, houve grandes expoentes na vitoriosa campanha do bi brasileiro e na conquista do mundo (sim, queiram os detratores ou não, somos campeões mundiais). Marcelinho, Edílson e Rincón mereciam destaque naquele time.

O Capetinha, aliás, lavou a alma corintiana ao disparar embaixadinhas diante de estupefatos palmeirenses na final do Paulista de 99, poucas semanas depois de o Corinthians perder nos pênaltis a Libertadores - para o mesmo rival. Se não aliviou a dor, ao menos acendeu o lampejo do Pequeno Polegar. Só que, ao contrário do argentino Villa, que mal se incomodava, os verdes partiram para o sai-na-mão.

É claro que muitos que a história corintiana abraçou não eram exatamente craques - casos de Baltazar cabecinha de ouro, Biro-Biro, Super Zé Maria e um inesquecível João Roberto Libertador - O Basílio eterno que, na premonição de Oswaldo Brandão, marcaria o gol que daria fim a décadas de fome. Eles são, no entanto, o elemento de união do craque corintiano ideal: aquele que une talento ao espírito guerreiro - Carlos Tevez, protagonista do brasileiro de 2005, é a personificação mais visível dessa característica.

O gosto pela incessante busca à vitória não significa que damos de ombros para o talento. Somos, isso sim, muito mais exigentes.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Lição de casa

Mais uma efeméride envolve o Corinthians na rodada de ontem. Depois do centésimo gol de Rogério Ceni e a despedida de Petkovic, Abel Braga reestreou pelo Fluminense.

O atual campeão brasileiro, no entanto, não conseguiu quebrar o tabu que perdura por sete anos. Em tarde inspirada de Willian, o Timão venceu por 2 a 0. Um de cabeça, aproveitando cruzamento de Danilo, e outro de pênalti sofrido por Liedson.

Com três gols, o atleta vindo do Figueirense já desponta como um "problema" a mais para Tite lá na frente. Neste momento ele é absoluto, já que Liedson precisa acertar o fuso, Emerson Sheik ainda está fora de forma e Adriano vai curtindo o estaleiro.

É pois um quadro bem diferente daquele do Paulista, quando o ataque era uma carência de respeito no elenco - Jorge Henrique vive péssima fase e Dentinho era subjetivo demais com suas pedaladas que não andavam.

É preciso desde já fazer justiça a um jogador muito criticado. Julio Cesar fez defesas importantes lances capitais da partida. Ainda que bastante desorganizado fora de campo - ao que parece, mais até do que o Corinthians - o Flu ainda tem um belo elenco.

A terceira vitória em quatro jogos dá uma boa pontuação num primeiro momento de Brasileiro que se configurava dos mais complicados.

O problema é que o Corinthians costuma às vezes ser instável a ponto de perder pontos bobos contra times pequenos - só pra ter uma ideia, no ano passado não vencemos o Ceará.

E ser freguês do Atlético-GO foi doído demais.

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TOCO E ME VOY

- No Troca de Passes de ontem, André Rizek classificou o time do Corinthians como "comum", mas o elenco é equilibrado - segundo ele, como o "onze" não é brilhante, os reservas não fazem o time decair tanto. Concordo em partes. "Comum" ainda é um termo elogioso demais para este time.

- Será que a sombra do Renan fez bem a Julio Cesar? É o que tá parecendo.

- O Santos pediu o adiamento do clássico por causa da decisão da Libertadores. Assim, não precisaria mandar a campo o time reserva. Por isso, o Timão vai ficar fora de combate por duas semanas. Isso é muito ruim, porque o time perde ritmo de jogo - e boleiro gosta mesmo é de jogar.

- E a volta é justamente outro clássico - contra o São Paulo, um jogo que provavelmente valerá uma posição importante na tabela. Não sei se o Corinthians deveria aceitar isso.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Poderia ter vencido

Dessa vez, deus dos destinos não conspirou contra nós. Fora cruel quando fez o tabu contra o São Paulo se romper com direito ao tal centésimo gol de Rogério Ceni. Mas, pelo menos, não fez da despedida de Dejan Petkovic uma glória nas costas do Corinthians.

O tal clássico das multidões fez jus a sua grandeza - ao menos no primeiro tempo, a partida se mostrou bem movimentada. William e Liedson mostram ser uma dupla de ataque muito interessante, mostrando muita velocidade e precisão. No primeiro grande lance de perigo, Levezinho deu dois tiros ao gol. Mas consagrou Felipe (aquele).

O Flamengo levava perigo principalmente em descidas pelo lado esquerdo. Pet e Ronaldinho tramavam momentos de perigo que assustavam Julio Cesar. Aliás, justiça seja feita, o arqueiro corintiano fez bela partida - talvez porque a partida, ainda na terceira rodada do Brasileiro, não tinha um caráter exatamente decisivo (me arrumem um copo d'água que o veneno correu solto aqui. hehehe).

A boa surpresa do dia foi Welder. O substituto de Alessandro mostrou personalidade na estreia e deu o passe para o gol que abriu o placar - recebeu, passou lépido pelo marcador e cruzou para Willian, qual flecha, aparecesse entre o defensor e o goleiro para fazer 1 a 0.

Mas aqui, um sobrenatural, travesso como um saci, resolveu apimentar a contenda. Da intermediária, Renato Abreu se ungiu de inspiração quintiniana e acertou uma bela cobrança de falta no canto esquerdo de Julio Cesar.

Pela boa atuação da primeira etapa, esperava-se a busca pela vitória no segundo tempo. Só que o time recuou demais e permitiu que os donos da casa chegassem mais. A sorte é que, bem apresentado no papel e sem Thiago Neves, o Flamengo não faz valer a qualidade na prática.

Ao fazer as substituições, Tite deixou o time ainda mais acanhado. Liedson sentiu uma pancada e pediu pra sair. Mas, quando se esperava a entrada de Emerson, o treinador colocou o volante Edenilson. Depois trocou Danilo por Morais, o que fez cair a qualidade do passe no meio. E quando enfim o Sheik entrou (me pareceu fora de forma), era para substituir Jorge Henrique.

No final, o Corinthians pareceu não ter forças - ou vontade - para manter os 100% de aproveitamento. Deixou-se empatar por uma partida em que poderia ter triunfado. Dois pontos que, no final, podem fazer falta.

TOCO E ME VOY

- Tite afirmou que não pediu Renan e deixou registrada sua preferência por Julio Cesar. Claro que isso é jogar pros boleiros e não se queimar. Mas bem que isso poderia ficar guardado para os bastidores.

- Tão incensado pela imprensa, o Cruzeiro tem decepcionado nesse começo de campeonato. Dos nove pontos disputados, fez apenas um. Tá certo que é cedo, mas ao que parece a Celeste das Gerais não é exatamente um bicho de sete cabeças.

- Apesar da goleada que os reservas tomaram ontem, é bom não subestimar o Vasco. A jovem dupla Bernardo/ Elton parece ser bastante promissora.