terça-feira, 15 de abril de 2008

Arbitragem: enfim, o diálogo

Eu e meu amigo Filipe Morais comparecemos ontem a um debate sobre arbitragem. O encontro foi promovido pela Universidade Cruzeiro do Sul - e realizado em seu campus Analia Franco, na zona leste - e pelo jornal Diário de São Paulo.

A caminhada até lá foi uma aventura regada ao implacável rush paulistano. Preferimos embarcar na estação Barra Funda pra não ter de se amassar feito sardinhas na Sé. O problema é que o tal terminal passou a se chamar Palmeiras. Corintianos que somos, tivemos de tapar o nariz.

Só a entrada no quarto trem do metrô já evidenciava a avalanche humana. "Morar em São Paulo é uma aventura." ele disse. O aperto foi tão grande que nós perdemos a Estação Tatuapé. Tivemos de saltar na Carrão e voltar. Já eram seis e meia - o debate estava marcado para as sete.

A van que deixava o terminal estava lotada. E foi vencendo ruas e curvas... no fim das contas, descemos nas proximidades do Shopping Anália Franco. Já eram sete e dez.

A entrada da Unicsul é monumental. Uma fachada reverenciada por vários lances de escada. O cenário fez o xará se lembrar de Rocky Balboa. Tínhamos de contornar o prédio principal e entrar num prédio ao lado. Sete e meia. Imaginei que já pudesse ter começado.

Ao chegar ao local, havia uns gatos pingados e nada dos debatedores. O velho defeito brasileiro da impontualidade nos foi favorável. O Coronel Marinho estaria preso no trânsito.

Não havia frescura. Desceram todos no meio da platéia. Despido da capa rígida de dentro do campo, Paulo César Oliveira distribuía autógrafos. Mas, centro da polêmica do choque-rei de domingo (encoberto por meio mundo, Adriano fez o primeiro gol do São Paulo com a mão), não fugiu da raia. Formada por muitos jovens, a platéia esteve inquieta demais o tempo todo. Um dos momentos de galhofa antes do início da discussão aconteceu quando PC autografou uma camisa do Palmeiras. Rinaldo Martorelli, presidente do sindicato dos jogadores, passou despercebido. A molecada mal sabia que ele foi goleiro do Palmeiras no final dos anos 80. No Paulista de 86, ele esteve presente em dois momentos trágicos. Um para ele - sofreu 5 gols do São Paulo num único jogo. Outro para mim: o Palmeiras devolveu a moeda justamente no Corinthians.

O debate começou sem a Ana Paula, que estava a caminho. Então era ela que se atrasara? Quando a belíssima assistente chegou, mais um momento de êxtase da platéia. Muitos aplausos e algum gracejo.

Emerson Leão tratou de desfazer uma imagem muito ruim. O treinador do Santos não é nada convencional. Prima pela contundência e por pontos de vista vigorosos. Mas não foi o mala que tantos apregoam.

Como o evento chamava-se "Em busca do diálogo", os palestrantes evidenciavam a dificuldade de travar uma comunicação dos mediadores dos jogos com a sociedade futebolística. Ana Paula diz que antes era recomendado que eles evitassem falassem com a imprensa. "Mas acho que a gente tem de falar, sim." Martorelli ressaltou que, no seu tempo de jogador, a comunicação com os árbitros era muito mais difícil. "Hoje, você não tem mais um Dulcídio (Wanderley Boschilla, ex-árbitro falecido em 96). Esse xingava jogador. Já o vi chamar os meus companheiros negros de macacos." Leão concorda: "Naquele tempo, muitos árbitros apitavam com ódio."

O treinador santista listou como um dos males da arbitragem o ciúme dos regra-três: "Já fiquei ao lado de vários. Eram simpáticos. Diziam: 'você tem razão. Foi pênalti, mesmo' Aí, eu digo a eles. 'se você estivesse apitando marcaria, né?'"

Outro tema discutido foi o uso da tecnologia para ajudar na resolução de lances. Segundo o Coronel Marinho, haverá um novo ponto eletrônico que filtra os ruídos externos. Ana Paula atentou para a dificuldade de se comunicar com os companheiros quando a partida está em curso. Mas o uso de imagens de telão durante os jogos ganhou um consenso negativo. Para eles, isso tira a autoridade e o charme do jogo. Martorelli fez ressalvas: "Discordo do João Havelange, que diz que o erro é 'necessário'".

Houve dois momentos de clímax. O primeiro, quando se debateu as mulheres árbitras. "Antes eu era totalmente contra, porque, no começo, a coisa aconteceu de maneira imposta. E as mulheres que entraram em campo na época não tinham preparo nem físico, nem técnico." disse Leão. "Muitas ainda não sabem direito o que querem da vida." O treinador santista, no entanto, admitiu: "As mulheres erram muito menos do que os homens." Ana Paula respondeu à altura: "Eu sei muito bem o que quero. O meu sonho é chegar a uma Copa do Mundo. Mas, infelizmente, eu obedeço a um sistema, que foi feito por homens."

O segundo aconteceu quando a assistente questionou a prioridade que a imprensa dá aos erros da arbitragem. Segundo ela, os jornais não salientam as dificuldades que os árbitros têm de definir um lance em segundos, enquanto jornalistas e treinadores são beneficiados por vários recursos eletrônicos. Nelson Nunes, colunista do Diário, respondeu. "Nós dissemos que o São Paulo ganhou com um gol de mão do Adriano. Me desculpe, mas ele realmente pôs a mão na bola."

O debate terminou com uma pergunta minha. No início da conversa, o PC disse que acabou a fase de o cara ficar em berço esplêndido durante a semana toda e ir para o jogo no domingo. Hoje existe toda uma preparação física e mental. Eu perguntei o que era essa preparação psicológica. As principais, segundo ele, são a alimentação e o sono. "Preciso daquelas 8 horas diárias. Se eu durmo sete horas e quarenta e cinco minutos, já acordo de mau humor." Ele também não abre mão de um preparo espiritual: "Sou católico, e oro muito." Ana Paula vai além: elimina baladas e assiste aos jogos para acompanhar a movimentação dos jogadores. "Se um zagueiro é mais lento ou mais rápido, se o Muricy joga com dois ou três defensores, isso influi muito no meu trabalho. Então, preciso dessa referência."

Ao final, fui agraciado com um cartão amarelo autografado pelo PC. Ele realmente é um cara que passa uma energia muito boa.

Mas a Ana Paula é um capítulo à parte. Muito menos pela beleza do que pela inteligência. A resposta dada à minha pergunta mostra o quanto ela é diferenciada. Alguns anos atrás, no Terceiro Tempo da Record, ela disse que, para não errar o impedimento, não tirava os olhos do lance e atentava para o momento do passe pelo barulho do chute. Como não sou nada bobo, fui lá cumprimentá-la. Muito simpática, me disse: "Parabéns. Bela camisa." Eu estava com a da seleção Portuguesa.

Toda a aventura valeu a pena.

domingo, 6 de abril de 2008

Não merecemos. Subiremos?

É a segunda vez em menos de seis meses que a tarde cai triste.


A derrota para um Noroeste que não é lá essas coisas evidencia que não merecíamos avançar no campeonato paulista. Talvez seja mais uma revanche para Marcio Bittencourt, demitido quando liderava o Brasileiro de 2005.


Entramos em campo, por culpa de nossos próprios méritos, num ambiente inglório. Era imperativo vencer. Mas não bastava. A Ponte não poderia vencer o Santos na Vila.


Edno abriu o placar para o colorado de Bauru, enquanto o Santos ia vencendo a Ponte. André Santos empatou ainda no final do primeiro tempo.


No raiar dos 30 minutos finais, Finazzi virava o jogo. Mas a macaca já vencia em Santos. Pelo menos, prenunciava uma despedida digna.


Que não durou um minuto sequer!

Edílton (que nome!) bateu meio sem querer na lateral da área e aumentava o sofrimento.


Aí, a defesa, tão sólida no campeonato inteiro, cometeu a sua pior falha. E o Noroeste virou o jogo.


Triste despedida de um time que saiu do nada e conseguiu começar a se acertar. Mas não teve o "algo mais" que faltou para avançar no Paulista. Uma classificação necessária para a auto-estima corintiana, tão combalida pelo rebaixamento.


Mas uma história tão presente nos dois últimos anos se fez presente neste. Sequer chegamos para disputar o título.

O mau retrospecto contra adversários diretos na Série B também preocupa. Derrota para o São Caetano, empates com Barueri e Bragantino e apenas uma vitória contra a Ponte. Isso sem contar empates toscos com Mirassol, Juventus e Sertãozinho.

No confronto com os rivais, duas derrotas (uma delas controversa, mas aconteceu) e um empate.

Isso não é handicap para o Corinthians.

Se jogar este mesmo futebol insuficiente na Segundona, não sobe.



Antes, não tinha dúvidas de que voltaríamos para a A no ano que vem



Hoje, ainda de cabeça quente, tenho sérias dúvidas.